Edição 05

Edição lançada em 03/11/2014

Editorial 5

Dois eventos cinematográficos no Brasil, que terminaram no último final de semana, cada um com sua especificidade, propuseram o alargamento de perspectivas dos cinéfilos e realizadores de cinema.

O primeiro deles, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em sua 38ª edição, trouxe a nata do cinema brasileiro e internacional (entre os que não foram exibidos anteriormente no Festival do Rio e afins) para as telas paulistanas, durante duas semanas. Ganhadores dos principais festivais de cinema do mundo, como Cannes, Veneza e Locarno, dividiram espaço com importantes retrospectivas (do espanhol Victor Erice, do japonês Noburo Nakamura) e outros filmes da cinematografia mundial.

Procuro sempre acompanhar o cinema brasileiro na Mostra – muitos dos filmes não estreiam depois, ou são arremessados no circuito. Pois é: pareceu gritante, para mim, que sempre fui um defensor do cinema tupiniquim, a grande quantidade de filmes ruins por um principal quesito, o roteiro. A discussão é antiga, mas, ainda que fizesse jus a uma parcela de filmes nacionais fracos, nunca vi muito respaldo olhando para os principais lançamentos. Nessa Mostra, pelo contrário, a quantidade de filmes com roteiros problemáticos me pareceu enorme, porque estavam lá os principais premiados do ano – filmes como A História da Eternidade, de Camilo Cavalcanti, e Obra, de Gregorio Graziosi. Havia exceções, claro, entre os bons roteiros, que geraram bons filmes, como Infância, do Domingos de Oliveira, ou Ausência, do Chico Teixeira. Mesmo o bom Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas, tem seus principais problemas na seara do roteiro.

O outro evento se deu em Curitiba e foi histórico. O Madrugada Sangrenta estava longe de ter o mesmo porte do evento paulista, mas contou com a ilustríssima presença do produtor e cineasta Roger Corman, famoso pelos filmes de baixo orçamento e por revelar diversos talentos de Hollywood. Hoje, com 88 anos, Corman e sua esposa Julie foram ao evento apresentar alguns de seus filmes e palestrar sobre a carreira. Falaram essencialmente sobre produção, mas tiveram como perspectiva o baixo custo – e como usar a criatividade para transformar condições adversas de roteiro e direção.

Voltado para o cinema de horror, mas abarcando o cinema de gênero de modo geral, o Madrugada Sangrenta ainda trouxe uma discussão importante sobre o roteiro para a categoria, tributo menosprezado, de forma geral, pelo cinema brasileiro. Promoveram o Horror Contest, um concurso para desenvolvimento de roteiro, apresentado para uma banca que continha, por exemplo, a Julie Corman. Foram avaliados projetos de longa-metragem e de série de horror. A discussão é importante porque o gênero é pouco fomentado. Isso faz com que os realmente interessados nele façam os filmes por conta própria, muitas vezes tendo pouca noção de projeto ou mesmo de construção e aprofundamento de roteiro. Poucos projetos propostos – tendo como base a apresentação – pareciam bem desenvolvidos ou minimamente interessantes, eram devaneios criativos sem forma (ou nem isso). E nisso me incluo, pois participei do concurso. A qualidade, ali, pouco importa. O espaço para debate do roteiro de cinema de gênero já é um ganho gigantesco. É torcer para que isso frutifique.

***

Nessa nova edição, o cinema mundial contemporâneo dá as cartas. Álvaro André Zeini Cruz fala sobre Mesmo se nada der certo, o primeiro filme norte-americano de um diretor irlandês; Phillippe de C. T. Watanabe se debruça sobre o também norte-americano (e queridinho de premiações e de parte da crítica) Nebraska; e Marcella Grecco versa sobre o mexicano A Jaula de Ouro. Por sua vez, Gabriel Carneiro entra na seara do vídeo, e fala sobre o tupiniquim Marly Normal.

Boa leitura.

Gabriel Carneiro

editor

Textos desta edição:

“Beleza que brota”

“Bem-vindos à terra da liberdade”

“Nebraska, a boa vida”

“Sonho de vida”

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