Edição 03

Edição lançada em 03/10/2014.

Editorial 3

Trabalho árduo parir quinzenalmente o editorial de uma revista pautada em não ter pautas. Porque a partir da unidade de uma pauta, de um tema, o editorial se desdobra de maneira mais natural; é o “carro abre-alas” que introduz o “samba-enredo” a ser explorado pela publicação naquele instante. Uma vez que optamos por uma pluralidade, às vezes um tanto quanto anárquica (nosso “carnaval” pode ir de “São João” à parada da Disney), nos resta esse parto à fórceps que é alinhavar os diversos – e, muitas vezes, distantes – pensamentos que pululam numa mesma edição.

Contudo, nos ater a essa costura nos parece cada vez mais um desperdício de espaço e tempo (nosso e do leitor), pois configuraria a perda de mais uma oportunidade de reflexão. Tomemos, portanto, este espaço como lugar de pontuações, provocações e reverberações sobre o cinema (atual ou passado, nacional ou importado, de circuito ou externo a ele) e sobre a vida em torno do cinema (a cinefilia), ainda que não nos debrucemos obrigatoriamente sobre eles no restante da revista. Vejamos o que tem acontecido por aqui…

Festival de Brasília: Adirley Queirós, diretor de “Branco sai, Preto fica” partilhou o prêmio de R$ 250 mil conquistado pelo filme com seus concorrentes. Uma decisão de cunho político e um puxão nas orelhas do circuito dos festivais. Mas o que ela representa para o cinema nacional fora do restrito circuito dos festivais? Fica a provocação… Uma impressão muito pessoal: os festivais parecem viver um processo autofágico, correndo em torno dos próprios rabos. Nesse sentido, talvez o mais interessante dessa história tenham sido os textos do crítico Sérgio Alpendre, tanto para a Folha quanto para a Revista Interlúdio, pontuando questões pertinentes sobre o esgotamento desse cinema jovem (que, dizem algumas vozes, foi influenciado pela “jovem crítica”, hoje não tão jovem e meio zumbi).

Mas nenhum de nós foi à Brasília e, portanto, estamos dando pitaco sobre o burburinho. Falemos de algo mais próximo à nossa realidade: o lançamento simultâneo de filmes nos cinemas e na Netflix. Será, enfim, a tão proclamada morte do cinema, senhoras e senhores? Não acreditamos nisso, afinal, há uma abismo entre os rituais. Para além do ritual do defrontar a tela gigante e da imersão na sala escura (tão caro aos cinéfilos), há ainda o ritual de se trocar, apanhar a namorada, esposa, filhos etc., seguir para a sala de cinema e lá comprar pipoca, jujuba, e toda aquela parafernália que as grandes redes vendem hoje. Aproveita-se para dar uma passeadinha no shopping (afinal, é lá que a maioria das salas estão instaladas). Esse “combo entretenimento” (que é como o cinema é visto pelo grande público) tem apelo. Ou seja, para o público que busca cinema como uma experiência ritual (tela, som, luzes que se apagam), o cinema ainda vive. Para o público que busca um ritual de passeio, também.

E falando em cinema, é só sobre ele que a atual edição se debruça: Gabriel Carneiro escreve sobre o filme Vera, de Sérgio Toledo; Phillippe Watanabe vai ao neorrealismo italiano através de Ladrões de bicicleta; Marcella Grecco aborda o peruano La teta assustada; Álvaro André Zeini Cruz se debruça sobre um recorte do cinema de John Hughes e Howard Deutch; e Beatriz D’Angelo Braz, em colaboração especial, discute o cinema de Marguerite Duras a partir de Nathalie Granger.

Boa leitura. E viva o cinema!

Álvaro André Zeini Cruz

editor

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