Por Phillippe Watanabe
A Família Griswold é conhecida por suas férias. Todas acabam em uma comédia cheia de gags físicas e situações embaraçosas protagonizadas, em sua maioria, por Clark Griswold. Nesse feriado de final de ano não poderia ser diferente.
No início de Férias Frustradas de Natal (Jeremiah Chechik, 1989), o terceiro da série de filmes, vemos uma família comum, que já sabemos não ser tão comum, em seu carro. Os pais cantam felizes, enquanto os filhos se entediam. Tudo para quando uma caminhonete começa a forçar passagem. Pela situação de tranquilidade anterior, seria de se imaginar que Clark deixaria o motorista de trás passar e continuaria viagem. Contudo, já começamos a perceber toda a tensão que envolve o protagonista, quando ele, como reação, acelera o carro e faz gestos obscenos. O olhar de Clark passeia entre o tranquilo, o irônico e o maníaco. O mesmo ocorre na sequência que virá logo a seguir. Segurando uma caneca do Taz, o diabo da Tasmânia dos Looney Tunes, o que já demonstra seu temperamento explosivo, Clark, num tom de gentileza irônico, ofende os auxiliares de seu chefe quando esses circulam pelo escritório.
Tradicionalmente, o Natal é a época de rever a família. Um momento que os Griswold, aparentemente, temem. Isso é comicamente demonstrado com uma campainha tocando. Ao ouvir o som, que se repete em diferentes tons, cada vez mais graves, acompanhamos as reações de todos os Griswold espalhados pela casa, até, finalmente, a câmera enquadrar a porta de entrada, aproximando-se dela ao mesmo tempo em que um aglomerado de vozes se faz presente e o ding-dong se torna distorcido, quase aterrorizante. Toda a família chegou.
Com a chegada da família, os Griswold recebem, já logo de início, críticas e atualizações sobre doenças. O reencontro é mostrado por uma câmera trêmula e rápida que se move em meio aos abraços dos parentes, o que transmite uma forte sensação claustrofóbica. Todo o barulho é interrompido rapidamente com a mudança para um plano geral estático. Ellen e Clark se olham, finalmente sozinhos, à entrada da casa. Clark, um tanto conformado, resume a cena e o filme ao falar: “Isso é o Natal”.
Pode-se imaginar que, a partir de então, seguindo a tradição de inúmeros filmes natalinos, praticamente nada dará certo. Desde um enorme emaranhado de luzes, até uma árvore de Natal em chamas, veremos as festas de fim de ano indo ralo abaixo, expressão usada quase de forma literal ao pensarmos nos acontecimentos do filme ligados a esgoto. Até mesmo um dos grandes momentos de alegria, pelo menos para Clark, acaba arruinado. Enquanto ele abraça toda a família após finalmente ver as luzes de Natal acesas, depara-se com Eddie, figura inesperada e nada bem-vinda que anuncia ter aparecido sem avisar para realizar uma surpresa. O Natal está completo.
Como grande parte das comédias natalinas, em meio a toda a confusão instalada, há os momentos em que pequenas lições de moral são disparadas e se instala um breve clima de harmonia familiar. É um desses instantes, logo após um encontro com a polícia, que encaminha Férias Frustradas de Natal para o fim. Clark, olhando orgulhosamente para o céu, com um rottweiler aos seus pés, declara que conseguiu. Passou por mais um período de férias.