As escolas

Por Phillippe de C. T. Watanabe

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Durante a vida escolar das pessoas, é comum o sentimento predominante ser de insatisfação ou indiferença. O ato de ir para a escola é encarado somente como uma obrigação cotidiana envolta em ações sem grandes emoções. Entre os elementos que conseguem mudar esse dia a dia, estão os amigos e alguns professores que, por seu jeito de apresentar ideias, conseguem nos fazer ver além.

Professores marcantes são o tema dos filmes That’s What I Am (EUA, 2011), de Mike Pavone, e Half Nelson (EUA, 2006), de Ryan Fleck. No primeiro, o Sr. Simon, um professor de inglês, interpretado por Ed Harris, enxerga potencialidades em Andy Nichol, as quais são desconhecidas pelo mesmo. Buscando ajudar o garoto, Simon o coloca para trabalhar junto de Stanley, um garoto isolado e constantemente perseguido e agredido por valentões do colégio. Em Half Nelson, Ryan Gosling, vivendo o professor de História Dan Dunne, inicia uma relação de amizade com a aluna Drey, Shareeka Epps, e busca a afastar da influência de um traficante local.

A premissa breve de Half Nelson é aprofundada de modo interessante no desenrolar do filme. As personagens principais são tratadas de forma a delinear a importância delas para a história. Todas possuem certo grau de profundidade psicológica, tornando-as verossímeis. Além disso, os protagonistas, Gosling e Epps, fazem um grande trabalho ao dar vida a suas personagens. Drey é uma personagem tímida, porém, seu olhar, mesmo sutil, transparece a emoção da cena. Dan fica à vontade na frente da sala de aula, prendendo a atenção do espectador como professor. Sua entrega às drogas fica clara nos seus olhos lacrimosos. Não à toa, Gosling, por seu papel no filme, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator.

Em That’s What I Am, por sua vez, tudo que, inicialmente, é apresentado e poderia se tornar uma boa história acaba se perdendo em generalidades. Entre todas as personagens que nos são apresentadas, nenhuma aparenta ter uma real identidade, o que as transforma em figuras, estereótipos que andam pela tela. Temos o grupo de garotos que praticam bullying, agindo violentamente em relação ao grupo dos excluídos. Seus pais, não fogem ao padrão, mostrando-se grosseirõesA garota que o protagonista “gosta” – relação que é representada com total frieza pelo filme, algo que, mesmo sendo utilizado de forma proposital, não pesa favoravelmente para o resultado. Tudo isso é rapidamente construído e parece não evoluir. A única personagem que mais chama a atenção é a do Sr. Simon, e, mesmo assim, temos nela uma personalidade ligeiramente achatada.

Voltamos, então, para a figura do professor e como ela é apresentada nos dois filmes. As duas obras buscam mostrar as possíveis interferências da vida pessoal no ato de ensinar. Desse modo, trazem a figura humana do tutor, não a colocam em um pedestal isolado e sem contato com o mundo ao redor, como se fosse um ser que dorme e acorda na escola. Dan, em Half Nelson, mostra-se disposto e, inicialmente, alegre enquanto dá sua aula. A turma se concentra no que ele fala e a interação é natural. Contudo, em seguida, é apresentado o vício do professor emdrogas, fato que é testemunhado por sua aluna Drey, e impulsiona uma maior aproximação entre eles. É interessante notar a câmera sempre trêmula utilizada no filme, representando, possivelmente, toda a instabilidade que a face tranquila de Gosling quase não deixa transparecer. Dan, mesmo em seus momentos de lazer, tenta ensinar. A educação parece ser parte do que ele é. Por esse motivo, torna-se triste ver como, com o passar do tempo, ele basicamente desiste dos seus alunos por conta de seu problema com drogas. Tal momento é marcado por uma ótima cena em que ele estende um pequeno maço de dinheiro em direção a Drey como pagamento de drogas. Assim, em Half Nelson, mesmo havendo o professor inato, sua vida pessoal não é relevada, o que dá mais força para a narrativa, aproximando-a da realidade e de uma abordagem mais delicada da vida humana.

That’s What I Am busca seguir um caminho semelhante, contudo, o resultado acaba sendo menos profundo. Na história, um boato sobre Simon ser homossexual começa a circular, o que passa a interferir em sua vida profissional. Tal trama, entretanto, fica parada neste ponto, sem uma evolução posterior, o que deixa a impressão de uma certa superficialidade na condução da história e de descaso com as personagens e seus destinos. Acaba-se ficando, dessa forma, com a ideia de um filme que privilegia a figura do professor intocável, quase não humano. Fica, assim, clara uma marcante oposição em relação a Half Nelson.

A presença e importância dos professores é o que aproxima e, independente de como as tramas são conduzidas, dá um tom belo para Half Nelson e That’s What I Am . É nítido que todas as personagens que cruzaram o caminho do Sr. Simon e de Dan não continuaram da mesma forma. Todas, de alguma maneira, tornaram-se pessoas diferentes ou tiveram que refletir sobre suas próprias vidas. Independentemente do que aconteça, todas se lembrarão deles. Esse, talvez, seja o papel de um professor.

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