por Álvaro André Zeini Cruz

1. Seguindo todos os protocolos, de Fábio Leal
Comédia dos absurdos – em tempos em que os absurdos se maleabilizam sentido ao realismo – que se tensiona entre tédio e tesão. O sexo se esgarça ao longo do filme; é cenicamente mais interessante na ambiguidade (tesão e neurose), quando rasga a cortina de EPI, mas mantém as PFF2 intactas. Mas a graça mesmo está no tédio, no regar da jardineira em plena chuva, na DR que amaneiriza lugares de fala e cancelamentos e, sobretudo, nos planos-gags – tingir o cabelo assistindo Mestres do Universo, malhar diante da vídeo-aeróbica de Jane Fonda. Instantes em que outro valor contemporâneo desponta quase como ato-falho: o consumo de uma certa nostalgia que reaviva passados não tão distantes, de um mundo que não era tão outro, mas também não era este.
2. Pequenos Guerreiros, de Bárbara Cariry
Bárbara Cariry realiza um filme genuinamente infantil, isto é, sobre crianças, para crianças. Benedito, Bruna e Matheuzinho matam aula – sob a guarda cúmplice dos pais de Benedito – para uma viagem num velho Jeep pelo Ceará. Escola, portanto, torna-se skholḗ, tempo de aprendizados marcantes, menos pragmáticos e burocráticos. No sentido mais convencional do drama, é um road movie esvaziado de conflito, mas não sem ação; isso porque a perspectiva infantil, de sonho e imaginação, preenche e sustenta a estrutura episódica, trabalhando com a música em prol do clima de aventura. No caminho para a festa de Reisado, o Jeep enferrujado, mas cheio de cor (e um circo estampado na traseira), cruza ETs, dinossauros e, claro, um cinema, com pôsteres e poses (como a de Curtindo a vida adoidado). Encanta pelo tom de aventura genuína, que estende o sertão como lugar utópico ao ponto de vista infantil. Bárbara ainda tem o bom gosto de, no título, remeter à obra-prima de Joe Dante.
3. Bem-vindos de novo, de Marcos Yoshi
Um abismo separa duas gerações. Pais, filhos e sonhos que coexistem – ou subsistem – num Brasil cujas crises são tantas que “não faz sentido falar em crise”. O Japão, país de outrora, dos antepassados, desponta como benção e maldição. Incessantes, as esteiras das fábricas produzem um movimento relativo, que distrai o fato de que os corpos e os desejos passam, de que sonhos se esvaem em ausências e vidas apertadas. Traumatizam as filhas, anestesiam os pais. Dois anos tornam-se treze; pais e filhos não se reconhecem mais. Estão ocupados em nascer, morrer e tentar recuperar em forma de filme a esteira que correu entre essas duas coisas. Ligando dois países, garantindo lugar nenhum. Yoshi encerra filmando como Ozu: a rotina não tem seu encanto.