Edição lançada em 28/08/2015
Editorial 15
A poucos dias de nosso happy birthday – sem performance de Marilyn Monroe, afinal, não seria apropriado para um aniversário de um ano – lançamos nosso número 15 imersos num momento de reflexão e resguardo de energias para a edição vindoura, essa, sim, comemorativa (não antecipamos a festa pois dizem que traz má sorte). Esta é, portanto, uma edição de corpo e alma. Não, leitor, não nos debruçaremos sobre a novela de Glória Perez, escrita nos anos 1990 (já basta o telespectador da TV Globo ter que engolir a reprise de Caminho das Índias), mas por uma coincidência – ou sincronicidade, diria Jung, – a dualida entre físico e espiritual fez-se temática recorrente em vários dos textos desta edição. Não deixa de ser pertinente à própria crítica, esse exercício de persistência que procura dialogar (ou digladiar) as almas das obras. Até mesmo se retomada a equação crítica de Douchet, podemos encontrar tal dicotomia: paixão, sentimento ardente normalmente associado ao carnal – no nosso caso, o corpo a corpo entre filme e crítico, olhos e imagens, – e lucidez, estado que demanda nirvana, inteligência emocional e que depende intrinsecamente do repertório da alma.
Os desdobramentos dessa colisão entre corpo/paixão e espírito/lucidez são múltiplos e perpassam esta edição. Álvaro André Zeini Cruz, por exemplo, opta pela datilografia como exercício físico e expurgação da alma, e “fominha”, evoca tal dualismo ao contrapor o curta Estátua! e o longa Quando eu era vivo, passa pela dilaceração do físico em Caçador de pesadelos, de Shinya Tsukamoto, e, por fim, encontra a espinha (dorsal) da adolescência numa cena de Harry Potter e as relíquias da morte – parte 1. Já Phillippe Watanabe parte de uma perturbação mental que pode reverberar e determinar o destino do mundo físico em O abrigo (além de arriscar algumas palavras sobre o curta Adão ou Somos todos filhos da terra). Para Juliana Maués, o binômio surge através de Carrie, “historinha” de De Palma sobre pureza e mácula, carne e espírito, e tem continuidade nas reminiscências trazidas pelo o que guardamos, temática do curta Entulho. Por fim, a colaboração especial de Felipe Cruz defende as garotas de Gilmore Girls como herdeiras espirituais de ninguém menos que Jane Austen.
Boa leitura e lembrem-se: “mens sana in corpore sano”.
Álvaro André Zeini Cruz
editor